O Livro de Abraão/Joseph Smith Papiros/Fac-símiles/Fac-símile 2/Identificação do deus egípcio itifálico "Min" como "Deus sentado em seu trono"

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Joseph Smith identificou o deus egípcio itifálico “Min” como a representação de “Deus sentado em seu trono”.


No Livro de Abraão, Fac-símile 2, Figura 7, Joseph Smith identificou o deus egípcio itifálico “Min” como a representação de “Deus sentado em seu trono Como poderia Deus ,o Pai, ser representado por um Deus pagão com um pênis ereto?


Seria isto “pornografia” egípcia?

Para responder a esta questão sobre o Fac-símile 2, figura 7, a primeira coisa que precisamos corrigir é a ideia de que isto constitui “pornografia”, pelo fato de mostrar a deidade com um pênis ereto. Esta atitude demonstra não apenas imaturidade sobre sexualidade, mas também a falta de entendimento em relação à religião egípcia antiga. Sua caracterização como “pornográfica” é extremamente inapropriada. É praticamente certo que os egípcios não enxergariam esta figura no hipocéfalo como “pornográfica” na maneira como a maioria das pessoas compreendem a palavra hoje. Esta atitude refletida por alguns é um bom exemplo de como nossa sociedade moderna e sexualmente obcecada pode facilmente mal interpretar a arte religiosa. Nós vemos um pênis ereto em um desenho e pensamos “pornografia”, enquanto no Egito antigo ele seria visto como um símbolo da fertilidade, de virilidade e da vida. Consequentemente, a figura de Min com uma ereção era um sinal de sua habilidade de conceder a vida. Temos analogias de representações de Deus no Noroeste Semítico. (El é chamado e caracterizado como um touro viril nos textos Ugaríticos, tanto por seus poderes de procriação quanto por sua superioridade perante os outros deuses.)

Outra coisa para se ter em mente é o fato de quão comum era a fusão de ideias religiosas e imagens simbólicas entre as culturas do Oriente Próximo. Sabemos que Hebreus antigos e outras nações do Oriente Próximo usavam um Deus fálico para descrever o “Deus da Bíblia” todo o tempo. O Deus Cananeu Baal, por exemplo, compartilha o mesmo epíteto com Jeová (“cavaleiro das nuvens”/”montado sobre os céus”) em Salmos 68:4.

Quem é este deus egípcio “Min”?

Hugh Nibley referiu-se a Min em sua obra prima “One Eternal Round”, pp. 304-322. Embora seja verdade que um dos atributos do Min era o de um deus da fertilidade, ou um deus de procriação, ele tinha outros traços que são análogos aos atributos de ambas deidades Semíticas do Noroeste, El e Baal. Primeiro, ele geralmente é caracterizado como um homem sentado em um trono. Segundo, ele é o deus da Criação, o Pai, o mais alto Deus, etc., como o El é visto nos textos Ugaríticos, e posteriormente na Bíblia Hebraica. Ele também é o deus da colheita vegetal, e, assim como Baal, supervisiona a garantia da renovação da vida animal e vegetal através das chuvas e inundações, etc. Chamar atenção somente para o aspecto da fertilidade do Min seria uma visão muito limitada. Além disso, John Gee, em um artigo muito importante [1], apontou que a figura do Min é frequente e simplesmente chamada de “o grande deus” pelos próprios Egípcios.

Se egiptologistas modernos dizem que esta é uma representação de Min, e que Min é um Deus “pagão”, como poderia Joseph Smith dizer que ele representa Deus sentado em seu trono?

Aqui estão alguns comentários de Kerry Muhlestein:

Nós não podemos ter certeza se deveríamos olhar para os Egípcios para saber como interpretar estes símbolos no Livro de Abraão. E se os descendentes de Abraão tomassem elementos da cultura Egípcia e dessem seus próprios significados à eles? Sabemos que muitos de sua descendência assim o fizeram em diversas ocasiões. Por exemplo, o próprio Jesus fez isso quando nos deu a parábola do Rico e do Lázaro, que claramente foi trazida do conto Egípcio de Setne-Kamwas. O Apocalipse e o Testamento de Abraão são mais dois exemplos de adaptações semíticas das tradições religiosas egípcias. Assim, não seria viável procurarmos por uma interpretação Judaica destes desenhos Egípcios ao invés de uma interpretação Egípcia? E se os desenhos tivessem originariamente sido feitos em um estilo artístico judaico/israelita, mas quando foram recopiados no segundo século antes de Cristo por um egípcio, o artista egípcio o redesenhou de acordo com seus costumes artísticos? Onde nós deveríamos então procurar para saber como interpretar estes desenhos? Parece claro que há sérios problemas ao se tentar verificar ou desacreditar as explicações de Joseph Smith dos fac-símiles ao compará-los às explicações dos Egiptólogos.[2]

Em uma seção de perguntas e respostas, Muhlestein novamente reiterou estes pontos:

Nós não sabemos ao que realmente deveríamos comparar estes fac-símiles. Estava Joseph Smith nos dando uma interpretação que egípcios antigos teriam tido, ou uma que apenas um pequeno grupo de sacerdotes interessados em Abraão teriam tido, ou uma que um grupo de Judeus antigos no Egito teriam tido, ou algo que outro grupo reunido teria tido, ou estava ele nos dando uma interpretação que nós precisávamos receber para nosso benefício próprio independente de quão antigo estes grupos tenham sido? [3]

De Michael Rhodes:

Um deus itifálico sentado com uma cauda de um falcão, erguendo um mangual. Esta é uma forma de Min, o deus da regeneração, das forças procriadoras da natureza, talvez combinado com o Horus, como demonstraria a cauda do falcão. Em frente ao deus parece haver um pássaro apresentando-lhe um Olho de Hórus, o símbolo do todos os bons dons. No outro hipocéfalo pode ser um macaco, uma cobra ou uma cobra com cabeça de falcão que esteja apresentando o Olho. Esta figura representa Nehebka, uma deusa cobra e um dos juízes dos mortos no capítulo 125 do Livro dos Mortos. Nehebka foi considerada uma provedora de vida e alimento e, como tal, frequentemente foi representada apresentando um par de jarros ou um Olho de Hórus. Quanto ao pássaro encontrado no Fac-símile 2, poderia simbolizar o Ba ou a alma (os egípcios geralmente a representam como um pássaro) apresentando o Olho de Hórus ao deus sentado. Joseph Smith disse que esta figura representa Deus sentado em seu trono revelando as palavras-chaves do sacerdócio. A conexão entre o Olho de Hórus com as “palavras-chaves do sacerdócio” foi discutida acima. Joseph também explicou que havia uma representação do sinal do Espírito Santo na forma de uma pomba. Era comum para os egípcios representarem a alma ou o espírito como um pássaro, portanto um pássaro é um símbolo apropriado para o Espírito Santo. Joseph Smith explicou que as demais figuras continham escritos que não poderiam ser revelados ao mundo. Reforçar o caráter secreto destas coisas está completamente em harmonia com documentos religiosos egípcios tais como o hipocéfalo e o capítulo 162 do Livro dos Mortos. Por exemplo, nós lemos no capítulo 162 do Livro dos Mortos, “Este é um grande livro e secreto. Não permita que ninguém o veja!”. Joseph também diz que a linha 8 “´que se encontram no Templo Santo de Deus”. Na linha 8 lemos, “Que a alma de Osiris, Shishaq, possa viver (eternamente).” Já que o propósito do hipocéfalo era tornar os mortos divinos, é portanto possível enxergarmos aqui uma referência às sagradas ordenanças realizadas em nossos templos SUD. [4]

References in the figure are to Michael D. Rhodes, "The Joseph Smith Hypocephalus . . . Twenty Years Later." off-site


Notas


  1. John Gee, “Towards an Interpretation of Hyppocephali,” 334
  2. Kerry Muhlestein, "Egyptian Papyri and the Book of Abraham: Some Questions and Answers," Religious Educator, vol. 11 no. 1 (2010) off-site
  3. Stephen Smoot, "Egyptology and the Book of Abraham: An Interview with Egyptologist Kerry Muhlestein," Student Review (November 2013) off-site
  4. Michael D. Rhodes, "The Joseph Smith Hypocephalus . . . Twenty Years Later" off-site